A conversa é mole, mas o papo é firme.

terça-feira, janeiro 26, 2010

O sexo dos ângulos

Já haviam dado a dica aqui nos comentários, e depois PAS me mandou o link (http://www.pedroalexandresanches.blogspot.com/) para um post em que ele comentou LÓKI, o filme, e perguntou o que eu achava. Assim sendo, não é uma resposta, mas o que eu na minha pequenez, acho.

Num escrito que espero um dia veja a luz das livrarias, comento mais completamente, mas o rock chegou ao Brasil em sua pior facção. Aqui chegou o rock branco, sem açucar nem sal, que era como a indústria norte-americana vendia a nova tendência para os puros lares racistas. Paul Anka, Neil Sedaka, Pat Boone, Bill Halley e outros que hoje não passam de meras curiosidades nos googles da vida que contam a história do roquenrou. E assim vieram as execráveis versões, e o Brasil é imenso.

A inglaterra teve melhor sorte e lá chegou o rock negro, o que gerou Beatles, Stones e milhares de outros, que acabaram mudando o comportamento geral, sem dizer nos próprios states, que depois de invadidos britanicamente, também caíram na real. Isso aconteceu porque os marinheiros chegavam a Liverpool cheios de discos que as rádios britânicas jamais tocariam e os filhos iam mostrando aos amigos, e assim foi. E a Inglaterra é muito pequena.

Final dos anos 1950, o Brasil não tinha ditadura, a grande guerra estava geograficamente distante, estavam acabando Brasília, e não havia repressão ostensiva e seria o país do futuro. Mas o problema é que, como é até hoje, os meios de comunicação radiofônicos e televisivos pertenciam a brancos caretas e atrelados ao governo, qualquer que seja. Assim sendo, melhor as profundidades de um biquini com bolinhas amarelinhas e estúpidos cupidos, do que como pegar uma garôta de jeito, ou rebelar-se contra a ditadura das manias dos com mais de 30 e das diferenças sociais. Muitos brasileiros sabiam dos novos caminhos, mas a mídia não repassava para a grande maioria. E tome ingenuidades.

Também a barreira social. A bossa-nova feita por jovens de classe média, de boas escolas, bons discos e com dinheiro (ao menos seus pais) para o whisky deles de cada dia, pela qualidade das influências, era muito sofisticada. Os durangos rebelados contra fossas aboleradas, fizeram a jovem guarda, e com posses só para ouvir o que estava no rádio, aprenderam do rock raquítico e continuaram na pobreza da falta de informação.

Surge Dona Rita da Silva Lee. Filha de americano, sabia o idioma. Com as posses familiares, estudava em colégio francês, o que trazia mais um idioma e informações privilegiadas em artes, comportamento, ou seja, uma visão muito mais aprimorada do que já estava acontecendo. Com a família dona de cinema, assistía vários filmes por várias vêzes, coisas que a juventude em geral não poderia ficar comprando ingressos toda hora para rever. Quando novinha, ela já fazia o que só se pôde fazer nos 1980, quando dos vídeos caseiros. Com irmã casada com inglês, ficou sabendo dos bítous na boca do fôrno. Elvis, James Dean iam à sua casa assim que nasceram.

Quando conheceu os Baptistas, eles eram bons músicos que mostravam sua habilidade em músicas instrumentais de uma facção musical baseada em guitarras e que hoje também ficou como curiosidade histórica. A novidadeira aplicou os manos nos novos sons, nas novas possibilidades, bítous, hendrix, stones, e tudo foi usado na prática quando se juntaram com os baianos.

A frase vital da novidadeira sempre foi e será "surpreenda-me". E nas viagens pelo mundo, um dia trouxe as novidades do rock progressivo, sem saber que as cobras venenosas estavam no balaio das guloseimas. Mostrou aos manos as viagens lisérgicas que eram Yes, Emerson, Lake & Palmer, Genesis, Jethro Tull, Led Zeppelin, as novidades da Inglaterra, que ocupavam o fim dos bítous. Ela não imaginaria que como mamaram nos primeiros sons que ela apresentou, os manos e agregados mamariam novamente. E não haveria lugar para letras engraçadas, irônicas, em meio a solos intermináveis e pretenciosos. Parece que no nirvana não se pode rir.
O rock sempre foi notoriamente machista, pois geralmente tem origem na molecada punheteira que acaba projetando o hábito para seus instrumentos, mas o progressivo é o ápice, pois não admite mulheres de forma alguma, e tem que praticar o dia inteiro. Também, com aquelas letras, faça-me o favor...clube do bolinha total.

Ela pode ter inventado que foi expulsa, eles podem ter inventado que ela saiu, mas o ponto é que ela não tinha mais espaço e estava fora, não interessa o conto contado. A novidadeira excluída por suas novidades.

Enquanto isso PAS diz de Romeu & Julieta, mas eu prefiro Sid & Nancy. RoJu tinham o pano de fundo da diferença das famílias, eram muito apaixonados o tempo inteiro e não deu certo por uma tragédia de êrros e confusões. E eram ficção.
RiAr não tinham nada disso, e sofreram de descompassos e não de amor eterno. Quando um quis o outro parece que não queria e vice-versa, e não se destruíram mais porque as drogas eram diferentes de SidNan. Maconha e LSD são bem diferentes de drogas injetáveis.

Outro ingrediente terrível, é muito dinheiro na mão de muito jovens, numa época em que tudo repentinamente era muito livre. Muita experimentação. Ritz era praticamente a primeira namorada de Arnaldo. As asas pediriam para voar, não tem jeito.
Ritz era, e acho que sempre será, apaixonada pela loucura específica de Arnaldo, e Arnaldo demorou um tanto para se descobrir apaixonado pela loucura da ruiva que era loura. Quando ele descobriu isso, já havia cometido o crime de seguir a linha que a tirou da banda. No coração de uma mulher, não tem conserto.

Ainda mais quando nestas alturas, pela batuta de Antonio Bivar, Ritz trouxe o rock de verdade para o Brasil, 15 anos depois, e coincidentemente quando Raulzito fazia o mesmo, embora um estivesse nas raízes e a outra no glittler do momento.

O caso Ritarnaldo agora só como fábula, pois Arnaldo esta em outro nível, e não adianta querer tratá-lo como um igual. Sempre digo e repito que é uma sacanagem expô-lo publicamente.

Quanto a LÓKI, tudo parece muito bonitinho, e é muito emocionante, mas sabemos que uma ilha de edição faz milagres. Pegamos 100 horas de material e reduzimos para duas horas, e podemos fazer uma coerência bem mais aceitável do que a realidade diária possa vir a nos apresentar.

A Bíblia é uma fonte de ensinamentos, e há uma passagem em que Cristo, já na cruz, pergunta "porque, Pai?"...e não obtem resposta. Depreendemos que uma resposta é sempre esperada, mas além da possibilidade de que ela possa não ser verdadeira, ainda tira a chance de que nos esforcemos para conhecer toda a história, e assim obtermos uma resposta, que ao menos nos satisfaça, seja ela certa ou não.

No quesito jeckyll/hyde, sabemos que yoko e carvalho existem porque lennon e ritz os criaram, muito embora o ciúme fãnatico jamais admita.
Os Mutantes que existem hoje, já existiam há um certo tempo. Os convidados especiais serviram para melhorar a cobertura do bôlo, e agora é bôlo sem cobertura. Tem quem goste, tem quem não.

6 comentários:

Edna Costa disse...

belo post, parabéns

só pra registrar: não suporto bossa nova - que venham as pedras...

abrass

Pedro Alexandre Sanches disse...

Ei, Bart, chego aqui finalmente. Adorei, principalmente suas considerações sobre a brancura do rock - até jogaria uma pimentinha, dizendo que, apesar de tudo, Beatles e Rolling Stones TAMBÉM eram branquelos machistas (a tomada de poder dos brancos sobre os negros no rock foi especialmente forte, né? meio concordando com a Edna acima, não foi meio o mesmo que a bossa nova fez "pelo" samba?...)

O ingrediente Yoko nos Beatles, pra mim, soa mais apaixonante que os próprios Beatles... Não sei se receberei pedras primas das que a Edna espera, mas Yoko pra mim é megamuitoultrasuper genial... Diacho de bruxa talentosa, viu? Mulher, japonesa, assassina de banda (e de marido?), tudo isso plantado no coração da américa wasp?!?!!, uaaaau!!!

Vai ver que a ruiva-Rita-loura-Lee-Jones "desceu" cá pra indiolândia pra deixar lugar vago pra índia japonesa lá na América "branca", né? :-)

Ê, viva a viajação na maionese!

Anônimo disse...

Os Mutantes sempre foram progressivos, todos os discos deles tem uma ou outra viagem sonora (eles ouviram Frank Zappa bem antes dos progressivos). O "Hoje é o primeiro dia...", da Rita com os Mutantes, tem bastante progressivo, sem prejuízo de humor e esculhambações de praxe. Eles teriam ido adiante, acho, se as dores de amores entre os siameses existenciais tivessem permitido.

Moni disse...

Como bem disse Menescal em LOKI: 'cada um tem a sua própria verdade'. E cada um de nós acredita naquela que melhor nos satisfaça.
Não vi em 'LOKI' a produção de uma verdade machista, uma vez que tem vários depoimentos que olham os fatos de diferentes ângulos, inclusive o próprio Arnowdo assumindo sua parte de bruxo mau e lascando um 'sinto muito'.
Então, como bem diz a Santa: 'talvez seja verdade uma bela mentira a resposta que sempre nunca vou saber'.

Aguardemos estes escritos nas livrarias. Bat Macumba!!

Denise disse...

Quem phode, phode, deixa os avirginados que se incomodem!

Em meio a desordens históricas, o "palhaço Rita Lee" cumpriu o seu papel lindamente...

É como diz aquele bom samba: "Malandro é malandro e mané é mané"

Moni disse...

Estamos todos bem?...