Começo de semestre. Um professor segue para sua sala de aulas para mais um ano na carreira, e sempre nesta ocasião costuma se lembrar da batalha para chegar até aí. Quanta ralação, quanta noite mal dormida, para chegar a uma tese, um doutorado.
Suas aulas são famosas, a sala esta repleta, e logo ele nota a presença de câmeras filmadoras. Fica orgulhoso, pois sente que seu trabalho desperta cada vez mais interesse nas pessoas.
Capricha na impostação da voz, nos gestos, explica tudo da melhor forma possível, pois sabe que está sendo gravado. Isto torna-se uma constante o semestre inteiro. Tudo registrado, embora o mestre não tenha sido ainda informado do porquê.
Os alunos ao entrarem na sala de aula, notam uma tela e um projetor de última geração instalados, tão potente que nem precisa diminuir a iluminação.
Um jovem super-elétrico cuida de todo aparato eletrônico necessário para a projeção.
Em altíssima resolução, som prístino e vários ângulos, lá está nosso bom e velho professor.
Quando ele cita Fernando Pessoa, o jovem corre e abre uma janela com foto do poeta, dados biográficos, trecho de um texto. Dúvidas? Conecção de banda larguézima com a Internet com todas as formas de wikipédias possíveis, abertas numa outra tela.
Os alunos saem impressionados pela destreza e habilidade...do rapaz que pilotava os aparelhos.
Os donos da Universidade, que são os promotores do evento, estão felizes pois gastam com o rapaz apenas um décimo do que gastavam com o professor. Os novos alunos jamais reclamarão, pois não sabiam que as aulas antes eram datas por alguém de carne e osso.
O professor está em casa olhando para o telefone mudo, se perguntando porque não o chamam mais para dar aulas? E porque ao assinar contratos com as Universidades, não percebeu aquela pequena cláusula em que cedia gratuitamente todos os direitos de imagem?