Composição: Théo
Compra laranja, laranja, laranja, doutor
Eu ainda dou uma de quebra pro senhor
Menino que vai pra feira
Vender sua laranja até acabar
Filho de mãe solteira
Cuja ignorância tem que sustentar
É madrugada, vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe arranja um outro pra laranja
Esse filho vai ter que apanhar
Lá, no morro, a gente acorda cedo
E é só trabalhar
Comida é pouca e muito a roupa
Que a cidade manda pra lavar
De madrugada, ele, menino, acorda cedo
Tentando encontrar
Um pouco pra comer, viver até crescer
E a vida melhorar
Acho que ela gravou com o Zimbo Trio, mais ou menos na época de "Upa Neguinho", e nem imaginava o teor do que estava cantando, ou ao menos não vivenciava nada disso. Daí vieram os festivais e o Fino da Bossa. O Fino era um programa comandado pela Elis, acho que às quartas-feiras, na Record, e só rolava Bossa Nova. Quem ia no Jovem Guarda (Benjor, Mutantes e a molecada do rock) não podia nem sintonizar na TV. Gravado nesse programa e que fez também muito sucesso, foi um medley da Elis e do Jair Rodrigues, que gerou os discos "Dois na Bossa". Saíram acho que 3 volumes.
Lá por 68, 69, Elis e outros lideraram uma passeata nas ruas de São Paulo contra a guitarra elétrica. Verdade, tem fotos. Daí fizeram um festival na Record, em que só podiam entrar instrumentos acústicos. Acho que foi o último dos festivais.
Então veio a Tropicália e novamente fodeu tudo. Guitarras, roupas, mistura de pop com vanguarda. Bem, voces sabem a história.
Elis se recolheu por um tempo. A tropicália durou muito pouco, talvez um ano, e logo os líderes do movimento estavam exilados na Inglaterra. A turma da bossa começou a voltar, cada um a seu jeito. Os Mutantes ficaram por aquí, fazendo o que bem entendiam e sofreram preconceitos de todos os lados. Elis não podia nem ouvir falar em Rita. Se cruzassem nos corredores da Record, faziam-se de mortas.
Mas os tempos foram se modificando. O combustível criativo da turma da bossa era o whisky. Bebedeiras sem fim. Aos poucos as drogas dos roqueiros e demais malucos de plantão, começaram a adentrar a área dos banquinhos e violões. Os trabalhos foram ficando diferentes. Chico lançou um disco com Construção, com arranjos de Rogério Duprat, o maestro da sonoridade tropicalista.
Aliás, Chico admitiu em reportagem recente que dá uns tapas na pantera até hoje. Elis expandiu a mente, embora publicamente tudo ficava como dantes.
Quando Rita começou sua carreira fora dos Mutantes, enfrentou mais preconceitos ainda. Bivar conta uma boa: ele dirigiu o show Drama de Maria Bethânia. Depois que o espetáculo estava em andamento, veio para São Paulo e acabou produzindo o primeiro show do Tutti Frutti. Quando voltou ao Rio, Bethânia o recebeu no camarim, e sem olhar na cara dêle, foi dizendo: "Sim senhor, heim senhor Bivar, depois de dirigir uma estrela do MEU NÍVEL, foi dirigir dona Rita Lee".
Mas Dona Rita Lee foi crescendo mais e mais. E foi em cana, exatos trinta anos atrás.
Se ninguém gostava da Rita, ninguém correu para socorrê-la numa hora tão difícil e em tempos de repressão.
Quase ninguém. Assim que soube da prisão de Rita, munida do filho João Marcelo, que era um garotinho que nem falava direito, Elis foi para a porta do presídio e disse:"Ou me deixam falar com a Rita, ou não saio daqui e faço o maior escândalo". Acabou sendo atendida e fêz de tudo para que Rita tivesse o melhor possível dentro do pior lugar possível.
O resto é história. Ficaram amigas, moravam perto uma da outra na Serra da Cantareira, embora Rita, já com Roberto e Robertinho, morasse em um lugar diferente daquele da comunidade Mutantes.
Tenho certeza que nas inúmeras visitas que se faziam, muito beque rolou ao pôr do sol, e Elis foi ficando mais politizada e fêz shows memoráveis. Ela chamava Rita de Maria Rita. Acho que é fácil deduzir de onde veio o nome da filha que Elis têve tempos depois. Elis era muito amiga de Chezinha, mãe de Rita.
E não dando muita bandeira, aliás, Elis foi se afogando na langerie. Ví uma entrevista dela na TV Cultura, em que estava cheiradassa. Devo ter gravado em algum lugar.
O vídeo que tem aqui abaixo, é o encontro das duas, num especial da Elis de 1978, que também vai sair logo em dvd, em que cantam uma música que Rita e Roberto fizeram especialmente para a baixinha, que tinha o apelido de Pimentinha. Doce de pimenta. Elis não chegou a gravar esta música em disco.
Infelizmente, numa dessas erradas de mão, lá se foi Elis. Mas redimidas as duas, Elis por ter reparado o êrro de ser preconceituosa com Rita, e Rita por ter ganho uma amiga de todas as horas.
Nos meus tempos de juventude Elis sempre estava por aquí em Ribeirão Prêto, pois tinha amizade com um pessoal de grana, e ela vinha dar um tempo na cabeça na fazenda dos caras. Às vêzes ia ao Restaurante do Bosque, lugar de música muito boa, mas não dava canja. Ficava por lá bebiricando. Eu a ví uma vêz neste local.
Depois a ví em alguns shows. O que nunca esqueço é que sempre que ela cantava "Atrás da porta", do Chico, ela chorava em cena. Ví umas 3 vêzes e assim foi. No Dvd do programa Ensaio, que saiu a pouco tempo, ela também chora. Uma alma atormentada, uma grande artista, uma perda enorme.
Vai aí o momento das amigas, que César Mariano, marido então de Elis, não gostou muito não.
Depois disso Elis ainda ganhou de presente de Rita e Roberto Alô Alô Marciano, que está atualmente abrindo até novela.
E notícias do front. Fotos de Norma Lima em Pouso Alegre neste sábado. Hoje tem a história completa lá no blog da Norma, e Fernandinha deve mandar mais fotos, pois a máquina de Norma ficou inibida.

