A conversa é mole, mas o papo é firme.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Mais um desgosto de agosto

Alguns tentam dizer que agosto não tem nada a ver, mas após uns amigos acidentados recentemente, o mês de cachorro louco levou um grande parceiro.

José Maria era amigo lá dos tempos do colegial, e ao contrário daquilo que foi dito de nunca mais vermos as pessoas, ele sempre estava presente nos últimos 40 anos.
Era um daquele tipo de pessoas que jogaram a forma fora. Sempre disponível a quem precisasse, preocupado com o desleixo da humanidade com o caminho cósmico, fã incondicional de Lennon e Hendrix, além dos bítous, claro.
Aliás nos conhecemos porque no colégio ele estava com o disco branco, vinilzão, debaixo do braço no intervalo, e acabamos puxando papo.

Sempre durmo tarde, e se ele passava em frente de casa e via a luz acesa, era papo para toda a madrugada. Tinha grandes idéias que sempre os deixaram frustrado, pois apesar de ter batalhado na fundação do PT, quando isso valia a pena, e depois do PV, nunca teve cargo algum, abominava qualquer menção de corrupção e vivia fazendo trabalho comunitário. Era a verdadeira cara da paz e do amor.

Seu grupo musical se chamava Brancaleone. Para quem não conhece, existem dois filmes, "O incrível exército de Brancaleone" e "Brancaleone nas cruzadas", que fala de um quixote da idade média, que junta um exército de desvalidos e salva donzelas, reinos, e luta até com a morte. Valem a pena ser vistos.

Um dia, em 1980, coube a mim dar a cruel notícia a ele sobre a morte de Lennon. Ele tocava comigo no Grupo 17, uma banda pré-NÓS, e foi um dos primeiros a empunhar a Guitarra Maldita, quando ela veio morar em Ribeirão.

Sei que é um tanto egoísta querer que uma alma de luz fique mais tempo por aqui, mas vai fazer muita falta. Gostaria de tê-lo apresentado a Ritz, mas fica para um outro plano.

Ele tinha um condição cardíaca, que foi complicada por um AVC na terça passada, e partiu no sábado. Oremos por ele, que vai olhar por nós.

Faltam quatro dias para o mês acabar.






9 comentários:

Anônimo disse...

Puts Bart que estória...

O céu deve estar em festa, e na próxima farra que vcs fizerem por aqui vc apresenta á Ritz ;)

beijão

Daniz Lee

Anônimo disse...

Acredito naquela história de que cada um vem pra cá com uma missão a cumprir. E lendo o post, dá pra perceber seu amigo cumpriu a dele com maestria.
Não sei lidar com morte, mas fico mais aliviada por saber que há almas de tanta luz olhando por nós.

Anônimo disse...

Bart, apesar de ser horrível este tipo de acontecimento, a gente tem que tentar conviver bem com isso, pois ele é somente mais um rito de passagem na vida de todos (dos que vão e dos que ficam).
Meu mês de agosto também não foi dos melhores, mas esta semana, finalmente, entramos em setembro, viva!

Beijos

Anônimo disse...

Aí a gente lê a cartilha Ritz e chora por dez minutos... e depois disso fica até em paz por ter existido um José, neste mundinho imbecil e capitalistazinho do vou-me-dar-bem-foda-se-o-outro.
Eu tenho uma tese pra estas mortes de pessoas sensíveis e artísticas: assassinato cultural. Quantos mais? Torquato, Itamar, Oswald de Andrade, Vianninha,Pagu ... E não foi agosto que levou o José Maria, foi a mediocridade e a mesmice deste planetinha sem sal.

Pra você e pro José, de meu querido Manuel Bandeira:


A Mário de Andrade Ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo, assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra,
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente


Mas agora não sinto a sua falta.


(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)


Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz já tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua.
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.

Anônimo disse...

Ele, com certeza, vai continuar em paz... E agora num mundo bem melhor que este aqui...

Anônimo disse...

amém pra esse poema do bandeira ..
coisas boas pra nobre alma ..

bjs
fefetz

Anônimo disse...

Bart,

Depois desse linda bandeira do Bandeira postado por Norma...nao ha nada a dizer alem do nao dito...

O silencio.

Enorme abraco!

Anônimo disse...

Fui visita-lo um dia antes do avc, que o fez entrar em coma.Demos boas risadas,falamos do Keith Richards que caiu no palco e outras amenidades....Que Deus o tenha...Viva o Z� Mui� e p/vc Mr.Bartsch parab�ns pela homenagem ao meu, ao nosso guru.
Comecei a compor uma m�sica com uma intro do Almir Gaivota e uma letra dizendo pra ele conversar c/ o Pag� e nos trazer as novas..s� que ele se foi..Vou envia-la pra vc terminar narrando a entrada dele no cosmo eterno ahnnnnnnn!!!!!!

Anônimo disse...

Bartsch, Um beijo no seu coração machucadinho. Ouça "Longe daqui, aqui mesmo" como complemento do Bandeira postado acima. Vai aliviar.