A conversa é mole, mas o papo é firme.

domingo, novembro 26, 2006

O mosquito da bosta do cavalo do bandido do filho do filho de RLML

Este capítulo final é basicamente igual ao que ficou em RLML. Como foram feitas modificações no início, com a retirada dos capítulos e situações, aqui também precisou mexer um pouquinho. Mas sempre tem algumas revelações que arrepiariam os cabelinhos do Vaticano.
Aqui praticamente terminam as sobras de RLML, que um dia quem sabe reaparecem, não é mesmo? Se tivesse vendido zilhões, iria sair a versão ilustrada, o making off. Mas eu sei que um dia isso ainda vai acontecer, pois é uma história atemporal, que vai valer para todo o sempre.

O capítulo se chamava Cena Alternativa, porque eu não sabia o que os editores achariam de um final da maneira como foi concebido. E se discordassem, minha proposta era terminar no capítulo anterior, quando Farniente vê Rita ao vivo pela primeira vêz, perde o diário, e sai pra vida novamente. Talvez o filme termine assim. A câmera capta a mijadinha de Farniente, e depois vai subindo em travelling mostrando a cidade e todas as suas possibilidades.
Quando toparam colocar do jeito que estava, quer dizer, eu não perguntei se queriam ou não, porque senão atiça a vontade de diminuir páginas, me pediram que mudasse o título do capítulo, e daí virou "Que será, será", que é o título de uma canção italiana, que virou sucesso na voz de Doris Day, nos anos 1950, como What will be, will be, e também teve versão em português. Muito conhecida. O que tinha que ser, foi.
Bem...na verdade tem um outro capítulo, talvez o mais louco de todos, mas vamos ver se eu mostro por aqui...não fiquem excitados, pois La Rúbia nem aparece nele. É todo de La Farniente.

CENA ALTERNATIVA


E assim terminava o diário de Bárbara Farniente. Mas mesmo com o trabalho que deu organizar aquilo tudo, ainda restava alguma coisa, e por isso fui em busca do cale-se sagrado.
Aproveitando todas as facilidades das buscas na internet, eu tinha encontrado o paradeiro de Bárbara Farniente, e agora aqui estava eu prestes a saber o final do final. Acho que ela também queria ver tudo isso escrito, pois não colocou objeções quando depois de alguns e-mails trocados, ela concordou em me contar o final da história, que era o encontro de Bárbara e Rita.
Tinha chegado bem cedo ao Spa Farniente, de difícil localização e acesso, e esperava pela proprietária, que havia me convidado para conhecer o lugar e também para me entregar um documento.
O local era coisa de cinema. Muita água e muito verde, e tão perto de São Paulo. Pareciam os fiordes finlandeses. Uma represa cercada de muitas matas, e encravado nesta área o spa da mulher considerada a maior proprietária da área.
E ela estava se materializando exatamente naquele momento à minha frente.
A autora havia prometido e estava cumprindo o trato de me entregar a parte final do diário, já que ela o havia perdido no show em que vira Rita ao vivo pela primeira vez. Para não perder a seqüência, esta parte que eu iria ler agora, é o que já está contado no capítulo anterior, por motivos literários. Ela também havia ficado perturbada ao perder o diário, mas sentia-se aliviada, como se um fardo saísse de suas costas. Estaria aprendendo a limpar gavetas? Mas também sentia que teria que escrever o que havia acontecido no dia daquele show por ter feito anotações a vida inteira, ou mesmo para encerrar de vez aquela história. E fora por pura sorte que aquelas anotações ainda existissem até hoje.
Quando acabei de ler as páginas que Bárbara Farniente tinha me entregado, vi que ela me olhava calmamente, com um sorriso tranqüilo. "Não quer fumar algo natural, para aproveitar a paisagem?". Minha expressão de espanto era indissimulável. Cigarro natural? Porque não? O lugar era mesmo bonito e sossegado. Muito verde, visual deslumbrante e o silêncio do paraíso.
Resolvi experimentar, e notei que ela não me acompanhou. Primeiro tive uma vontade de rir de tudo que acontecia. Gestos eram engraçados, qualquer palavra, pensamentos. Fumei até começar a tossir convulsivamente. Aos poucos, consegui voltar a conversar, apesar de estar achando tudo muito engraçado.
Durante algum tempo, não conseguia formalizar o que queria dizer, emitindo frases desconexas e fragmentadas. Um pensamento emendava com outro, claramente para mim, mas acho que confuso para quem ouvisse. Bárbara apenas observava. Eu tentava preencher as lacunas que faltavam naquela saga.

Consegui perguntar, já que ela havia escrito aquela história, quais seriam as profecias da santa. Ela foi bem vaga na resposta :”Estas coisas estão soltas por aí. Quem tiver que encontra-las, as encontrará”.
Eu jamais perguntaria, mas a desinibição da droga tirou de mim o controle da língua. “Afinal, senhorita Bárbara Farniente, após todos estes anos e todos estes tangenciamentos inumeráveis, seria possível ouvir alguma pista sobre quem ou o quê é Rita Lee?”. Minha boca descontrolada e seca acuou meus pensamentos. Aguardei convicto, ser mandado à puta que me pariu.
Não havia um traço de emoção no rosto que me respondeu. “Rita Lee, pelos ditames da lei, é uma assassina”. A pausa foi pequena, mas foi novamente o eterno em um segundo. “Rita Lee vem matando as Amélias de tempos em tempos, e merecidamente, pois aquelas jamais foram mulheres de verdade. Ela deu a cara para apanhar e não recuou um milímetro. No evangelho segundo suas letras de música, para quem souber separar o joio do trigo, estão os ditames da nova mulher. Volta e meia ela deposita uma nova mensagem aos iniciados. Um passo sempre à frente. Esqueça da costela. A nova mulher ressurgirá das cinzas de todas as fogueiras acesas injustamente”.
Vértebra por vértebra, minha espinha ia se congelando. Ela continuou, olhando para um ponto fixo indefinido:”Muitos vão leva-la a julgamento, ao sentirem seus reinos abalados, mas ninguém conseguirá condená-la. Qual seria a principal acusação? Falta de sobriedade? E quem, no mundo, conseguiria fazer tudo isso de cara limpa? Você, se estivesse de cara limpa, estaria me cutucando?”. Nem precisaria olhar no espelho para ver minha cara de bosta.
Fiz uma última tentativa para mudar o placar, para provoca-la mais, para fazer com que ela destilasse a raiva que tinha daquela sombra em sua vida. “Então quer dizer que Rita Lee é tudo?”. Ela tirou os olhos do ponto indefinido e mirou bem no meio dos meus olhos avermelhados:”Não. Ela não é tudo. Ela é uma parte”. Senti que precisava mudar de assunto.
“Uma outra coisa que gostaria de perguntar: onde ficam os bacanas que freqüentam o seu Spa? Pelas instalações que vi, aqui só deve entrar bacana e da melhor estirpe, não é mesmo?”.
“Meu jovem”. Será que ela me contaria o que se passava naquele Spa do Dr. Moreau?
“Este lugar é muito maior do que você possa imaginar. E sim, os bacanas, aliás muito bacanas, estão por aqui e deixam fortunas por isso”. Eu sabia. Ela devia faturar alto com aquilo tudo. Mas em breve eu seria obrigado a sentar para não cair das pernas.
“Acho que talvez não seja bem o que você queira ouvir. As pessoas que vêem aqui são bacanas na essência. Todos são muito bem sucedidos no que fazem, mas sabem que podem fazer mais, e é isso que estão fazendo aqui. Os bacanas dos quais você perguntou usufruem deste lugar, mas é trabalhando. SPA, não é um estaleiro de dondocas tentando corrigir o incorrigível. SPA vem de Special People & Animals. Animais e Pessoas Especiais. Aqui é um lugar onde tentamos dar conforto aos desprovidos e desvalidos”.

E Bárbara Farniente me contou como foi encontrada por este lugar, um paraíso terrestre abençoado por Deus, e logicamente bonito por natureza. O dinheiro deixado pela herança serviu para adquirir a imensa área, que estava sendo guardada por um misterioso morador, que dizia aguardar a pessoa certa para vender tudo aquilo, e que assim o círculo se fecharia. E ainda assim, mesmo após a compra da área, as contas da Suíça continuaram abarrotadas e isso já garantiria a continuidade do projeto.
“Assim que comprei a área, eu tinha uma vaga idéia do que fazer, mas do nada começaram a surgir pessoas e mais pessoas. E era como se cada um que aparecesse fosse um velho conhecido. Tenho plena certeza que são pessoas que já se encontraram em muitas outras vidas. Foi assim que tudo tomou forma. Para resumir uma história longa, temos médicos, engenheiros, artistas, biólogos, magos, representantes de todos os setores do conhecimento humano e mais um pouco”.
Será que eu estava ouvindo aquilo ou era pura chapação?
“Como disse, a área é enorme, e dessa forma tudo fica dividido em setores específicos, para que possamos cuidar dos diferentes casos sem interferências de qualquer tipo. Temos crianças abandonadas, aquelas tidas como irrecuperáveis, algumas com doenças irreversíveis, mas todas carentes. Temos idosos abandonados pelos seus, outros que não tem mais família, e muitos também com doenças irreversíveis. Temos mulheres estupradas ou vítimas da violência do lar. Temos viciados nos mais variados níveis. Temos rejeitados pela sociedade. Temos animais domésticos abandonados e não domésticos que sofrem as mais diversas explorações e desmandos. E o que fazemos? Damos o conforto. As pessoas que trabalham aqui são voluntárias e aprenderam na vida que as mazelas pelas quais se queixavam em suas vidinhas medíocres, nada são perto dos problemas que aqui aparecem. Estas pessoas viram que todo o dinheiro que ganharam, de nada servia para o espírito, e isso os levavam a se afundar mais e mais em fugas das mais diversas. De minha parte, aprendi essa lição na carne, no trabalho que fiz nos últimos anos em hospitais e instituições. Pensei que estaria um tanto só, mas existem muitas pessoas de boa índole”.
Eu não conseguia abrir a boca. Bárbara falava com os olhos brilhando e muita emoção na voz.
“Artistas apresentam aqui suas obras para platéias que jamais poderiam vê-los por não terem condições para isso. E fazem os shows e peças completas, com cenários e tudo mais. Muitas vezes isto tem efeito muito maior do que qualquer remédio. Não adianta fugir da realidade. Todos temos nossa hora de partir, e é isso que tentamos ensinar aos desvalidos. Temos que aprender a morrer, com a esperança de estarmos indo para um lugar muito mais evoluído. Os resultados são assustadores. Vemos milagres acontecendo diariamente. Por todos estes lugares, temos visões e aparições fantásticas, dignas de um local mágico e sagrado. A brisa constante que passa por aqui é o sopro de Deus, que nos energiza diariamente. O amor que recebemos tanto de pessoas quanto dos animais que vagavam por aí a esmo, não tem preço e nem pode ser comparado a nada.

Geralmente arrematamos lotes de animais que estavam jogados em circos e zoológicos mambembes e quando recuperados, são enviados a seus habitats naturais, muitas vezes na África, na Índia e muitos outros lugares. Compramos frigoríficos e os fechamos, para o bem da humanidade. E as pessoas que por aqui aparecem para ajudar, vão doando tudo que excede o que necessitam, não deixando que dinheiro seja um problema para nossas metas. E este lugar não se chama SPA Farniente por minha causa. É uma singela homenagem a Diva Farniente, que sempre me mostrou que o espírito é muito mais que a matéria, e a Claudionor Farniente, que me provou que a matéria pode conduzir a boas metas, se bem empregada”.
Bárbara ainda me falou um pouco das ramificações internacionais da idéia, mas minha cabeça já não estava entendo tanta informação.

Senti que era hora de ir embora, e que nada mais me seria dito. Durante a conversa, fiquei sabendo que Bárbara e Rita estavam trocando e-mails, o que não era novidade, pois Rapunzel só se comunicava desta forma. E agora eu já tinha idéia sobre o que, mas desci a ladeira em direção ao prédio principal, ainda cheio de conjeturas. O Spa , ou melhor, SPA, ocupava realmente uma área muito grande e o acesso não era nada fácil. E o que será que as duas estavam conversando? Será que Rita Lee sabia do que ocorria nas terras de Atibaia?
No caminho até a saída, que não era lá tão curto, e tinha que ser feito à pé, notei uma trilhazinha que levava a uma elevação, um tipo de mirante. A descontração canábica e a pura curiosidade me empurraram para lá.
Escavado ao pé da elevação, e cercado por pedras das mais diversas formas, havia um pequeno santuário. Deveria ser algo feito por nativos, ou quem sabe pelo misterioso antigo proprietário. O santuário era pequeno e bem primitivo, mas muito bonito, em perfeita harmonia com o lugar onde estava incrustado.
Até que não me surpreendi. No altar, uma imagem de plástico, e logo o cheiro característico de urina tomou de assalto minhas narinas. No pé do altar, inscrições incrustadas na pedra. Deveriam ser as profecias ditas para as três irmãs Lee. A primeira delas, era : Aparecerei apenas para os que cumprirão minhas profecias, e aquele que atentar contra mim, pagará o preço disso. A segunda: Uma de vocês será a que é sem nunca ter sido, e terá a missão de alegrar as pessoas. E por mais que abuse da vida, ou tente desistir, lá estarei para resgata-la, e mantê-la na retidão". E finalmente a terceira: “A que ficar famosa dentre as três irmãs, encontrará seu oposto, que na verdade será seu complemento. E um dia serão uma, em corpo e espírito”. Será que ao saber disso eu estaria estragando a realização das profecias de Santa Rita de Sampa?

Quando estava entrando em meu carro, vi uma van com os vidros escuros, esperando que eu saísse para a estrada estreita e sem asfalto que levava até a rodovia D. Pedro I, por um caminho tortuoso e cheio de encruzilhadas.

Só entrei e saí de lá por ter um mapa. Ao lado da van, estava um negrão enorme, fazendo sinal para que eu passasse e tomasse o caminho da saída. Quem seria aquele negrão? Ele tinha estilo.
Ao passar próximo à condução, percebi um vulto bem conhecido da mídia. Os cabelos eram vermelhos. E até hoje me pergunto o que era real, o que era maconha. No caminho de volta, meus pensamento voavam livres, leves e soltos. Mas será que Bárbara aparentava tanta juventude porque fazia o tratamento daqueles malucos que bebem urina? Vou ter que experimentar isso também?...arghhhh...porque a síndrome de vida eterna? Comecei a gargalhar sozinho. E precisei parar no acostamento tamanho o acesso de riso que tive ao pensar que eu seria o único maluco a acreditar nessa história toda.
Mas não há duvidas que as vibrações de um grande ritual estavam no ar, e como disse Keith Richards em uma letra: sparks will fly. Fagulhas vão voar. É horrível, mas sempre acabamos usando letras de músicas, admito, e a vida é uma partida de xadrez bem complicadinha mas divertida, se bem jogada.
E a moral da história foi batucando em minha cabeça no caminho de volta: tudo havia mudado, mas estava igual. Ou tudo estava igual, mas havia mudado? Se tivesse uma baga eu daria mais um tapinha, na boa. Enfiei a mão no bolso e me certifiquei que o mapa ainda estava lá.

6 comentários:

Anônimo disse...

Nosso (M)achado de Assis, ou melhor, de Ribeirão Preto, eu já te disse o quanto me emocionei com o teu livro, a ponto de chorar de soluçar em algumas passagens! A ponto de rir até às lágrimas em outras.
Só tenho a dizer, mais uma vez, muito obrigada pelo sem empenho em fazer este livro, em batalhar por ele, na sua gentileza de sempre, inclusive na de construir este blog, que é sem dúvida nenhuma, o nosso ponto de encontro do Cosmo pra falar e saber mais sobre a nossa querida.
As sobras do RLML dão um ótimo prato principal, que encantam os nossos olhos e o corações.
Thnks eternos!

Anônimo disse...

Fernanda Lee falou "oi"...

Anônimo disse...

Rsrsrs... ERRATA:
eu quis escrever SEU empenho e não SEM empenho.

a cega também quis escrever THANKS e não THNKS.

Anônimo disse...

"Esqueça da costela. A nova mulher ressurgirá das cinzas de todas as fogueiras acesas injustamente”.

Adoro isso!!! Tbm senti a espinha congelando quando li isso pela primeira vez e me arrepio até hj... talvez por ser uma moça daquela turma dos novinhos aos quais vc vive chamando atenção, sã Sr. Bart? Hehehehe...

Beijo!

Anônimo disse...

Quem sabe vc não vira um Paulo Coelho fazendo tour pela Sibéria? Não precisa xingar, é brincadeirinha. E sei que é de mau gosto, só pra cutucar.
Esse final, inclusive o oficial, está parecendo aquele filme "Quem Somos Nós?" A gente tem que ler, pensar, ler novamente, pensar mais um pouco, ler outra vez e depois ainda discutir com o colega. Dá abertura pra um montão de coisas, cada um com uma opinião diferente. Uma viagem. Adoro isso, detesto coisas óbvias.

beijão!

Anônimo disse...

eu estava no rio esse dia e não tinha dado pra comentar .. cheguei e simplesmente não tinha lido ..

tô sem fôlego ..

bjo
fefetz