A conversa é mole, mas o papo é firme.

domingo, outubro 01, 2006

Na Real

Antes de começar o assunto, tem relatório completo do show de Curitiba na sexta e fotículas, no normalima.blog.terra.com.br que é blog da maluket mór, Normix. Todo mundo lá pra ver que fã sofre, oh se sofre.

Em uma das últimas edições da revista Carta Capital, tem uma longa matéria de Pedro Alexandre Sanches, o PAS, que fêz o prefácio de RLML, principalmente sôbre a peça de Preta Gil. Para elaborar o texto, foram feitas perguntas para a Rita e para mim. Aqui vai o texto completo de perguntas e respostas, principalmente para o pessoal que faz jornalismo, ou mesmo quem segue por curiosidade, para ver como se pega o que interessa ou não para a matéria finalizada.

Estas são as feitas para a Rita:

1) Você poderia contar o que sentiu, e como se sentiu, durante a apresentação de "Um Homem Chamado Lee"?
Pedro querido...vendo Pretinha lá no palco tinha horas que me lembrava dela pequenininha brincando nos ensaios do pai e ficava orgulhosa da "filhinha"...outros momentos me dava conta que aquela mulherona tava lá corajosa segurando um monólogo e cantando pra valer e ficava orgulhosa da "filhona"...chorei muito e ri muito...as vezes segurava na mão de Sandra que estava sentada atrás de mim e tudo parecia uma máquina do tempo que ia para frente e para trás...acho que foi a homenagem mais bacana que recebi até hoje

2) Preta Gil disse que você chorou bastante no dia em que viu. Eu pude testemunhar, também, o choro e a emoção de Gilberto Gil no dia em que ele assistiu. O que você diria que, ali, tem causado tanta emoção aos tropicalistas de primeira hora (além, é claro, dos muitos laços afetivos envolvidos)?
Ser filho de artista já é uma cobrança danada, ser filha de ministro mais ainda, "os tropicalistas de primeira hora" agradecem a Preta em nome do atrevimento, ela está dando uma banana para os cobradores de plantão e dando um show de bola para o povo.

3) Poderia contar um pouco sobre suas relações afetivas com Preta?
Eu digo que sou sua mãe biológica mas que por precaução Gil resolveu que nossa bebê seria educada por Sandra, uma pessoa digamos assim mais confiável...talvez ele já soubesse que um dia seria Ministro da Educação...

4) Gil definiu a peça, imediatamente depois de assisti-la, como uma discussão sobre a vampirização do ídolo pelo fã. Você concorda?
Olha, eu já conheci muito fã esquisitão, desses que dormem na porta da casa da gente e nos seguem até a China...eu lambi a maçaneta da Apple e praguejei quando aquele incompetente do Chapman atirou em Lennon ao invés da japa vudú...acho que fãs não vampirizam, eles são esquisitões mesmo, quem vampiriza artista é crítico de música...but I love you!

5) Na peça, o fã-travesti é ao mesmo tempo "herói" e "vilão" - "herói" protagonista do espetáculo e "vilão" que quer anular seu ídolo como se fosse possível tomar seu lugar. Seria, nesse segundo sentido, uma espécie de "revanche" do ídolo contra o lado mais obscuro, cruel e destrutivo dessa multidão que se esconde por trás da alcunha algo cor-de-rosa de "fã"?
Não tenho idéia...quando eu era uma anônima me inspirava em Francoise Hardy, Brigitte Bardot e Marianne Faithfull, talvez se tivesse tido a oportunidade de chegar perto delas eu as sequestrasse também, mas para que elas me ensinassem seus truques de maquiagem, cabelos, modelitos...os fãs-frankenstein que você se refere viram Mark Chapmans e se revoltam contra seus criadores...as vezes nem precisa, artista volta e meia morre de overdose.

6) O que você achou das versões rock'n'roll de suas músicas (mesmo as que na origem eram mais leves e pop), que parecem (re?)aproximar Rita Lee de um imaginário mais marginal, mais pesado, mais soturno, às vezes até meio depressivo (no estilo Lou Reed, David Bowie etc.)?
Adorei os arranjos, o texto é ótimo, as costuras entre as músicas são geniais, a direção de Rodrigo Pitta é jóia...acho que para o "imaginário mais marginal" que algumas pessoas possam fazer de mim tá perfeito, assim eu posso continuar na minha santidade de sempre.

7) Na sua opinião, a peça (e, dentro dela, a interpretação de Preta) não é um tantinho cruel com a figura do travesti?
Meu bem, é um teatro trash a la John Waters, não esperemos pois nenhuma santificação da figura do travesti.

8) O fã pode ser um travesti de crítico? O crítico pode ser um travesti de fã? O artista também pode se travestir disso tudo aí?
Pode ser tudo isso e muito mais...como disse o mestre : de perto ninguém é normal...

9) Recentemente, você tem dado aval a trabalhos que a citam e poderiam ser tidos como "homenagens", mas que ao mesmo tempo não se pautam por serem complacentes, risonhos, bajuladores, generosos (estou pensando em "Um Homem Chamado Lee", e também no livro de Henrique Bartsch, "Rita Lee Mora ao Lado"), por serem trabalhos que englobam, enfim, também algum nível de "crítica" a Rita Lee, e não só de "elogio" a Rita Lee. O que a faz dar aval a eles?, o que pensa dessa natureza algo "crítica" de "homenagem"?
Como já falamos sobre "Um homem chamado Lee" vamos para o "Rita Lee mora ao lado" ...o livro do Henrique foi escrito baseado nas nossas conversas virtuais de anos e anos, cartas de amiga para amigo, não eram perguntas e respostas como costumo fazer com jornalistas, você conversar por e-mail com um amigo que não te julga já é uma delícia, imagine quando rola uma confiança total para abrir o coração mesmo, é uma ótima terapia, aliás...no livro o texto dele é maduro e juvenil, engraçado e abusado, igualzinho aos mails...quando vi nossas conversas transformadas em livro, contando coisas que ninguém nunca soube, me deu um alívio...era o lado da minha moeda que estava lá, doa a quem doer, inclusive a mim mesma... mas percebi também que minha vida não tinha sido um film noir como muitas vezes pensei, foi tudo uma grande chanchada, a ainda com final feliz...comecei até a ficar fã da cantora em questão...aliás, você escreveu o prefácio, outra surpresa para mim que não sabia até então se me amava ou odiava...diga que me odeia, mas diga que não vive sem mim...e você disse...obrigada.

10) Por fim, poderia contar experiências individuais suas, de vampirização entre ídolo e fã? Pergunto sobre você como fã, mas também (e principalmente, talvez) sobre você como ídolo. Seus fãs podem eventualmente agir como "doces vampiros"?, e isso pode ser doloroso para você?
Putz, eu meio que já contei algumas experiências acima...mas tenho uma história boa da fã Jekyll&Hyde que descolou meu endereço e passou a mandar cartinhas de amor-de-fã, não existia e-mail na época...eram tão carinhosas, e eu, carente que sou, respondia eventualmente...foi nessas que dei trela para o monstro dar as caras e as cartas começaram a ter uma conotação mais, digamos assim, sensuais...eu dizia que não era bem a minha praia mas que não tinha nada contra muito pelo contrário, etc e tal...mas a coisa foi ficando séria, e Jekyll finalmente disse a que veio: ela era minha alma gêmea e o destino já estava escrito, eu deveria abandonar tudo e todos, iríamos fugir juntas para um lugar remoto...parei de escrever no ato, a mulé era pinel...mas o meu silêncio teve um trôco, passou a mandar todo santo dia uma rosa vermelha com um bilhete: eu vou te matar!...dizia que era escrito com o sangue dela...mensturação talvez, pensei eu cínicamente...um belo dia o porteiro do prédio me chamou pelo interfone: dona Rita, aquela louca acabou de se cortar toda aqui na minha frente e disse que vai se matar se a senhora não falar com ela, o que faço?...veio a ambulancia e carregou a mulé sei lá pra onde...mas eis que o monstro voltou a fazer as mesmas ameaças; rosa vermelha e o bilhete com sangue...naquela altura do campeonato eu já achava que não era menstruação...para resumir a ópera, contratei um detetive para descobrir quem era a peça, e qual não foi meu espanto ao saber que se tratava de uma juíza de direito, dessas poderosas, que mandava e desmandava numa vara criminal barra pesada...e eu pensando que era uma adolescente...cruz-credo-vá-de-retro...meu advogado teve um trabalhão danado para acabar com a tragédia anunciada, a mulé foi despedida e sumiu...se um dia eu aparecer morta pode apostar que foi ela: Freda Krugger, o retorno!

Estas perguntas foram feitas para mim:


(me foi perguntado o que eu achava destas homenagens atualmente feitas para a Rita, e que na verdade endeusam, mas também dão umas pauladas). Minha opinião sôbre:


Homenagens extremamente positivas denotam fim de linha. Vamos homenagear em vida. Quem sabe esta homenagem não dá uma sobrevida na carreira, coisas assim. Não é o caso, e acho que ela chutaria o balde se as recebesse. A proximidade dos 60, a tal terceira idade, tem vários paralelos com quando se aproxima da tal maioridade. Não se vive direito o presente, preocupados com a incerteza do futuro. A maioridade se apresenta como o totalitarismo da liberdade, mas dá mêdo. Terceira idade como o totalitarismo da decadência. Mais mêdo ainda. Uma é tese, a outra antítese.
Assim sendo, as tempestades que Rita plantou na vida, agora retornam como uma brisa de alento, em forma destas cruéis homenagens, para que ela siga em frente empurrada pelo dever cumprido. É a síntese, com uma pitada de masoquismo, que não deixa de dar prazer, em certas tribos.

Porque Rita atrai isso:
Ela nunca fez questão de ser levada à sério e nem de se levar à sério. Isto a Rita Lee cantora/atriz/escritora/etc. É tudo uma grande farra. A pessoa Rita Lee já é diferente, e no âmago, estas homenagens enviezadas estão aí para mostrar esta diferença. Ela lamenta ter seu nome próprio na artista. Como ela gosta do palco e das luzes, talvez não gostaria de fazer como Brigitte Bardot, que precisou virar as costas para arte, para que a fama de seu nome não viesse a interferir em outras causas que ela queria defender. E é sintomático que estas homenagens críticas tenham surgido de lados totalmente diversos, mas num mesmo momento. Meras reações expontâneas ao que ela se propôs. Um caso típico de sincronicidade. Uma ação que ajuda a mostrar que tem gente atrás da casca de ídolo, e tambem uma hora certa de se dizer carinhosamente aos nossos mestres, que eles não prestam, mas nós os amamos. Ou somo nós que não prestamos?

7 comentários:

Anônimo disse...

e eu aqui
perdido entre números de candidatos...
sic

Anônimo disse...

que, que é isso rapaizzzz...o sr. "prefácio" esta de parabéennss

Anônimo disse...

Bart, esqueci de te dizer que tinha alguém com o Rita Lee mora ao lado na platéia de Curitiba. E gracias pela propaganda do meu humilde blog.

Anônimo disse...

Outra coisa; que juíza sem juízo heim? Hehe... Está vendo o que Ela provoca? Senhor!!!!

Anônimo disse...

Bart dear...

Apesar do sr. Pedro No Chances não ter me crucificado achei a matéria da revista Carta anos luz das nossas respostas, e já que a moda pegou porque não postar a da IstoÉ que nem sequer foi publicada, assim vossos queridos blogueiros vão entender que se perguntar não ofende, responder também não...love you...

Ruiva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amanda Mirasierras disse...

Imagina então o tamanho do estrago que eles fariam em nossas vidinhas, se prestassem...