A conversa é mole, mas o papo é firme.

domingo, novembro 12, 2006

A vingança do filho das sobras de RLML

Quando Lula estava em maus lençóis no primeiro turno, Gil anunciou que qualquer que fosse o resultado da eleição, ele estava fora da política. Quando virou segundo turno, Preta Gil disse que ele tinha prometido para a família que pararia, mas ela tinha lá suas dúvidas.
Agora uma frase de Preto Gil, a missão, dita esta semana:"Poderei chegar a aceitar ficar. Poderei não ficar. Há apelo dentro de mim mesmo para ficar e para sair. Esperem."
É praticamente uma letra de música do Gil. Essa pôrra de poder é droga forte, mesmo. Schwarzenegger, reeleito governador da California, disse que de todas as seqüencias que ele já fez no cinema, esta foi a melhor. O orangotango que não é de Piazzola, tem o firme propósito de pegar o lugar de Bush. Imaginem o estrago que Conan, o bárbaro, vai fazer. Ao invés de ficção, é na vida real.

Esta semana Ritz foi ver a estréia de Maria Bethania, ou Mary Beth para os íntimos, e disse que Anibal ficou incontrolável. Partiu firme pra cima do rapaz, tentando recuperá-la para o partido.
Mesmo Bethânia perguntando sôbre Rosinha, a eterna namorada, não teve jeito.
Fui a primeira a ser chamada no camarim...Anibal estava cafageste demais e ela(Mary Beth) adorou as declarações...perguntou se Rosinha tinha vindo junto e Anibal falou que mulher tem que ficar em casa. O nome completo dele é Anibal Cantídio Wenceslau de Gusmão.

Os iniciados já sabem quem é o Partido Verde falando. Ritz disse que estava usando um casaquinho que mama Chezinha tricotou para papi Charlie como presente de noivado, e que esta em bom estado. Quem viu, viu.

Na revista BIZZ, de novembro, que acabou de sair, uma boa matéria para RLML. Dizem por lá, que Ritz pode ser o urso polar de Lost. De um a cinco, levamos quatro de cotação. Uma carinha com um sorriso largo. E vamos no grão em grão.

Por falar em RLML, mais uma das crianças enjeitadas, tadinhas. Algumas partes foram aproveitadas na versão final do livro. Mas aí vai o original.



ÁGUAS TURVAS EM RIO CLARO

Charles deu uma olhada panorâmica em seu consultório, a primeira coisa totalmente sua na vida, e não conseguia esconder a satisfação. Ser filho de Cícero Jones e ter mais oito irmãos, dava a ele o aval de vencedor. Aquela coisa deveria ser do sangue americano, de acreditar em si, de ultrapassar todas as barreiras e conseguir o que queria.
Fizera o curso de odontologia tendo o pão amassado pelo capeta como refeição diária e, no fundo, sabendo que herdaria algo importante de Cícero, ou seja, nunca desamparar quem dele precisasse, pagando ou não pelos seus préstimos. E Rio Claro tinha muito mais carentes que abastados.
O que mais havia cultivado em sua vida e que o acompanharia para sempre era o pão-durismo convicto, cultivado na eterna necessidade em que vivia. O consultório era uma prova viva de sua situação, pois era minúsculo, mal dando para atender um cliente sem ficar batendo os cotovelos nas paredes, uma pequena janela para a rua e uma salinha menor ainda, com duas cadeiras, que fazia as vezes de sala de espera.
Charlie sabia que não era bonito, mas cultivava o jeitão dos feiosos charmosos dos filmes americanos. Era inteligente e misturando com charme, elegância e simpatia, sempre conseguia alguma coisa, vocês sabem em que setor, mas nada muito sério. Era tão desligado que nem se apercebia que a idade já começava a chegar para quem gostaria de estabelecer uma família. E essa era uma de suas dúvidas, pois, quanto custaria uma família?
Chegava mesmo a pensar em ficar bem quietinho, pois sabia o que havia passado em sua casa com aquele tanto de gente e o dinheiro pouco.
Estava tão imerso em seus devaneios que nem notou a proximidade da procissão da semana santa na rua do consultório.
Mal sabia que dali a alguns instantes os sinos iriam tocar e não na igreja, mas em seu coração. Ouviu o canto da sereia e não estava amarrado em lugar algum como Ulisses, o da mitologia. Não era católico e tinha até uma certa aversão para com as práticas de tal religião, mas ficou tocado com a cerimônia, de uma emudecida tristeza, ao menos naquela versão que estava vendo.
Romilda, uma italianinha da família dos Padula, fazia as vezes de Verônica e seu canto pareava centímetro a centímetro com sua beleza física. Um canto pungente que sempre provocava uma choradeira generalizada nos fiéis que a assistiam ao desenrolar a figura de Jesus estampada em seu véu, e seu belo rosto, com olhos claros e dentes grandes, era a verdadeira definição do celestial.
O tempo estava nublado, mas Charlie viu o sol naquele canto que vinha da alma. Mas seu temperamento fez com que não se animasse muito. Ela era descendente de italianos, ele de americanos, e essa mistura não era lá muito benquista num lugarejo daqueles. Depois veio a saber que tinha 13 anos a mais que ela e o que tinha a oferecer, financeiramente, não iria de forma alguma impressionar os pais da garota. Charlie herdara de Cícero o tabuleiro mental de xadrez. Planejava muitas jogadas à frente.
Além do mais Cheza, o apelido carinhoso de Romilda, era muito paquerada por todos os bons partidos da cidade, mas fazia o gênero inatingível. Charlie, estudando o tabuleiro e colocando seu bispo em posição de futuro xeque à rainha, logo viu que aquilo era timidez pura e simples.

Naquele ano nada mudou muito para o dentista tanto no amor quanto nas finanças. Vida dura e nenhuma garota. Apenas a lembrança daquela celebração católica com a qual ele continuava a não concordar, mas marcada pelas imagens da sereia distante e seu canto. Charlie a via muito raramente pelas ruas, mas nunca cruzaram olhares. Em sua opinião, profundo desconhecedor das manhas femininas, achava que Cheza não tivera a mínima percepção de sua existência.
Mal sabem os homens que nós sempre fingimos que estamos sendo conquistadas para deixar o garanhão todo senhor de si. E assim vamos ganhando a vida sem muito esforço. Eles não entendem que só fazem quando nós deixamos. Voltemos às minhas pesquisas.
Aqui e acolá ouvia comentários da rapaziada sobre a italianinha, todos com as melhores das piores intenções, mas ninguém conseguia chegar perto. Sem querer ela mexia com várias pessoas. Uma delas era Dalva, que um dia veio a ser a famosa cantora Dalva de Oliveira, mas aí já é outra história, e aqui eu começo a existir um pouco. Dalva era irmã de minha mãe, Diva.
Tia Dalva tinha um inveja total da beleza de Cheza e era abertamente sua rival. Era sempre mais disponível para os rapazes que a italianinha ignorava, mas não era nem tão bonita e nem tão valorizada no mercado da paquera nos passeios na Praça da Matriz ou nos bailinhos no clube.
A disputa mais aberta por Cheza, era entre Ulisses, um jovem brilhante, articulado, e que um dia se tornaria Ulisses Guimarães, o Senhor Diretas, e por Claudionor, o qual teria muita influência em meu futuro. Conto mais tarde.
Estes dois eram os poucos que mais se aproximavam, mas nunca tocavam no objeto do desejo, por mais que tentassem.
E assim gravitava o mundo no sistema solar rioclarense, lenta e gradativamente.
Mas chegaria em breve, o armagedon, a batalha final.

Carnaval era território livre, mas nem tanto. Era quando famílias reunidas cheiravam a então permitida lança perfume, e se o som pudesse ser ouvido, seria "tóóóíiiiimmmm" pelo salão inteiro. As bebedeiras eram permitidas sem que ninguém botasse reparo, e as roupas poucas deixavam muitos tesouros proibidos durante o ano à mostra naqueles quatro dias.
O melhor da festa era no Clube Ginástico de Rio Claro. Lá começavam e acabavam muitos casamentos ou ao menos as promessas de.
E aquele ano foi digno da corrida de bigas de Ben Hur.
O cenário era o mesmo de sempre. Homens ao centro e nas beiradas da pista deixando um espaço em forma de anel livre para as mulheres que ficavam girando em sentido horário, todos dando ou esperando pequenos sinais para formar um parzinho que, se desse certo, rolaria pelos vários dias da festa embora muitas trocas fossem feitas no decorrer.
Charlie sempre ia para cheirar sua lancinha e beber até perto do vexame que sua classe nunca deixava transparecer. Eram os dias em que tudo era permitido socialmente, dentro de certos parâmetros, bem entendido. Na quarta-feira de cinzas, as confissões acertariam os ponteiros.
Foi nesse dia que o dentista botou reparo firme na italianinha, quando se viu frente a frente com a beleza que admirava à distância e um pensamento fixo apoderou-se dele naquele exato momento "vou casar com essa mulher, custe o que custar". Começava mais um xadrez mental, agora valendo taça.
O tabuleiro estava complicadíssimo, pois todas as peças importantes estavam presentes: Cheza, Ulisses, Charlie, Claudionor, Dalva e Diva. O resto eram peões.
O panorama era complexo, pois Charlie, Ulisses e Claudionor estavam direcionados para Cheza, Dalva aceitaria qualquer um que estivesse atrás de Cheza, o que colocava os três no páreo, e, atribulação de minhas atribulações, Diva elegeu Charlie como objetivo final.
A Charanga mandava bala nas marchinhas, o povo mandava bala na lança e nos bebuns, e os olhares mandavam bala para todo e qualquer lado. E todos tinham revólveres de mocinho, pois nunca acabava a munição.
Como tática Charlie retraiu-se, pois não confiava na primeira impressão que causaria sua falta de beleza física e também o ranço da diferença de idades, e se os americanos eram óleo, os italianos eram água. Além do mais, não sabia dançar.
Isso permitiu que Ulisses atacasse pelos flancos barrando Claudionor de um ataque frontal, mas não conseguindo evitar os mísseis de longo alcance lançados pelos olhares e sorrisos de Charlie. Dalva, achando Charlie fora do páreo, deu uma cotovelada em Diva e disse "nem chega perto", e foi com toda a cavalaria contra o forte de Charlie que estava muito protegido por mais que Dalva tentasse derrubar o portão com seus golpes de aríete. Diva ficou nas colinas cheia de desejos para conquistar aquele forte, agora ainda mais. Dalva acabou fazendo papel de índio rechaçado, mas nada pode dizer, pois isso aconteceu com toda elegância, claro.
Grande estrategista, Charlie deixou que Ulisses ganhasse fácil aquela batalha, mas não a guerra. Dalva, Diva e Claudionor ficaram totalmente fora de combate. Pela língua dos olhares, Charlie estava convicto que tinha chances, por isso não se importou muito com aquelas voltinhas pelo salão, mas pensou firme, olhando para o Ulisses, tão novo quanto Cheza, "que não lhe sobre um cabelo no topo da cabeça, e que desapareça para sempre". Que língua tinha esse americano.

Algumas músicas que tocaram no baile naquela noite eram desconhecidas para Cheza, e ela não gostou nada disso. Pegou uma amiga e foi, logo que acordou, na única loja de discos da cidade para ouvir as novidades daquele carnaval e aprender as letras.
Ia abrindo a boca para pedir para ouvir as músicas quando o rapaz da loja se chegou e disse "senhorita Chezinha, aquele senhor pediu-me para lhe oferecer esta marchinha". Ela olhou curiosa para ver quem era o galanteador e num cantinho da loja lá estava Charlie, sorrindo para ela.
A marchinha era "Linda Loirinha", de Braguinha, e a letra era algo assim "loirinha, loirinha, dos olhos claros de cristal, desta vez, em vez de moreninha, serás a rainha do meu carnaval". Cheque ao rei. Mate. Ou melhor, à rainha. Mesmo assim, mate.
Estava aberto o caminho para que ele jogasse em seu campo predileto, o do charme e da elegância, fácil alameda para demonstrar seu brilhantismo.
A amiga ficou jogada às traças e naquele ano Chezinha não aprendeu as letras de nenhuma das músicas novas. Só da "Loirinha".
A festa só não foi perfeita porque ao exibir seu coração corintiano a italianinha tinha que ser Palmeiras. Um tio dela era até fundador do Palestra Itália. Não iria se converter jamais.
Nem tudo é perfeito.

2 comentários:

Unknown disse...

trico tando c/ dona cheza...folias em rio claro...vô cícero entrando de gaiato no navio...o médico&ocharlatão do imperador...
cara!!! iço merece uma nova edição do Leevro, quando enfim saberemos como e porquê a ursa maior virou o urso de lost!
abraço-açu

Anônimo disse...

Vi nas fotos do show a obra de Chezinha ... "as obras"

Como disse mestre dino essas histórias ai merecem um novo livro, tantas coisas ficaram de fora ...
Adoro esses assuntos !!...

thankx
f lee