A conversa é mole, mas o papo é firme.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Elees e Ela

Eu fiquei sabendo de Elis, quando ela cantava no rádio o "Menino das Laranjas". Não, não tem nada a ver com o Garotinho do Alckmin. Vai aí a letra, para vocês verem o teor político que existia na época, e que acabou aportando nos festivais. Isso até a turma da tropicália desbundar tudo.
Menino das Laranjas
Elis Regina
Composição: Théo

Compra laranja, laranja, laranja, doutor
Eu ainda dou uma de quebra pro senhor

Menino que vai pra feira
Vender sua laranja até acabar
Filho de mãe solteira
Cuja ignorância tem que sustentar

É madrugada, vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe arranja um outro pra laranja
Esse filho vai ter que apanhar

Lá, no morro, a gente acorda cedo
E é só trabalhar
Comida é pouca e muito a roupa
Que a cidade manda pra lavar

De madrugada, ele, menino, acorda cedo
Tentando encontrar
Um pouco pra comer, viver até crescer
E a vida melhorar


Acho que ela gravou com o Zimbo Trio, mais ou menos na época de "Upa Neguinho", e nem imaginava o teor do que estava cantando, ou ao menos não vivenciava nada disso. Daí vieram os festivais e o Fino da Bossa. O Fino era um programa comandado pela Elis, acho que às quartas-feiras, na Record, e só rolava Bossa Nova. Quem ia no Jovem Guarda (Benjor, Mutantes e a molecada do rock) não podia nem sintonizar na TV. Gravado nesse programa e que fez também muito sucesso, foi um medley da Elis e do Jair Rodrigues, que gerou os discos "Dois na Bossa". Saíram acho que 3 volumes.
Lá por 68, 69, Elis e outros lideraram uma passeata nas ruas de São Paulo contra a guitarra elétrica. Verdade, tem fotos. Daí fizeram um festival na Record, em que só podiam entrar instrumentos acústicos. Acho que foi o último dos festivais.
Então veio a Tropicália e novamente fodeu tudo. Guitarras, roupas, mistura de pop com vanguarda. Bem, voces sabem a história.
Elis se recolheu por um tempo. A tropicália durou muito pouco, talvez um ano, e logo os líderes do movimento estavam exilados na Inglaterra. A turma da bossa começou a voltar, cada um a seu jeito. Os Mutantes ficaram por aquí, fazendo o que bem entendiam e sofreram preconceitos de todos os lados. Elis não podia nem ouvir falar em Rita. Se cruzassem nos corredores da Record, faziam-se de mortas.
Mas os tempos foram se modificando. O combustível criativo da turma da bossa era o whisky. Bebedeiras sem fim. Aos poucos as drogas dos roqueiros e demais malucos de plantão, começaram a adentrar a área dos banquinhos e violões. Os trabalhos foram ficando diferentes. Chico lançou um disco com Construção, com arranjos de Rogério Duprat, o maestro da sonoridade tropicalista.
Aliás, Chico admitiu em reportagem recente que dá uns tapas na pantera até hoje. Elis expandiu a mente, embora publicamente tudo ficava como dantes.
Quando Rita começou sua carreira fora dos Mutantes, enfrentou mais preconceitos ainda. Bivar conta uma boa: ele dirigiu o show Drama de Maria Bethânia. Depois que o espetáculo estava em andamento, veio para São Paulo e acabou produzindo o primeiro show do Tutti Frutti. Quando voltou ao Rio, Bethânia o recebeu no camarim, e sem olhar na cara dêle, foi dizendo: "Sim senhor, heim senhor Bivar, depois de dirigir uma estrela do MEU NÍVEL, foi dirigir dona Rita Lee".
Mas Dona Rita Lee foi crescendo mais e mais. E foi em cana, exatos trinta anos atrás.
Se ninguém gostava da Rita, ninguém correu para socorrê-la numa hora tão difícil e em tempos de repressão.
Quase ninguém. Assim que soube da prisão de Rita, munida do filho João Marcelo, que era um garotinho que nem falava direito, Elis foi para a porta do presídio e disse:"Ou me deixam falar com a Rita, ou não saio daqui e faço o maior escândalo". Acabou sendo atendida e fêz de tudo para que Rita tivesse o melhor possível dentro do pior lugar possível.
O resto é história. Ficaram amigas, moravam perto uma da outra na Serra da Cantareira, embora Rita, já com Roberto e Robertinho, morasse em um lugar diferente daquele da comunidade Mutantes.
Tenho certeza que nas inúmeras visitas que se faziam, muito beque rolou ao pôr do sol, e Elis foi ficando mais politizada e fêz shows memoráveis. Ela chamava Rita de Maria Rita. Acho que é fácil deduzir de onde veio o nome da filha que Elis têve tempos depois. Elis era muito amiga de Chezinha, mãe de Rita.
E não dando muita bandeira, aliás, Elis foi se afogando na langerie. Ví uma entrevista dela na TV Cultura, em que estava cheiradassa. Devo ter gravado em algum lugar.
O vídeo que tem aqui abaixo, é o encontro das duas, num especial da Elis de 1978, que também vai sair logo em dvd, em que cantam uma música que Rita e Roberto fizeram especialmente para a baixinha, que tinha o apelido de Pimentinha. Doce de pimenta. Elis não chegou a gravar esta música em disco.
Infelizmente, numa dessas erradas de mão, lá se foi Elis. Mas redimidas as duas, Elis por ter reparado o êrro de ser preconceituosa com Rita, e Rita por ter ganho uma amiga de todas as horas.
Nos meus tempos de juventude Elis sempre estava por aquí em Ribeirão Prêto, pois tinha amizade com um pessoal de grana, e ela vinha dar um tempo na cabeça na fazenda dos caras. Às vêzes ia ao Restaurante do Bosque, lugar de música muito boa, mas não dava canja. Ficava por lá bebiricando. Eu a ví uma vêz neste local.
Depois a ví em alguns shows. O que nunca esqueço é que sempre que ela cantava "Atrás da porta", do Chico, ela chorava em cena. Ví umas 3 vêzes e assim foi. No Dvd do programa Ensaio, que saiu a pouco tempo, ela também chora. Uma alma atormentada, uma grande artista, uma perda enorme.
Eu sempre achei engraçado como duas pessoas com os nomes tão parecidos, nada usuais, foram ícones da música. Elis e Elvis. É só tirar o v. Coisas da sincronicidade.
Vai aí o momento das amigas, que César Mariano, marido então de Elis, não gostou muito não.
Depois disso Elis ainda ganhou de presente de Rita e Roberto Alô Alô Marciano, que está atualmente abrindo até novela.






E notícias do front. Fotos de Norma Lima em Pouso Alegre neste sábado. Hoje tem a história completa lá no blog da Norma, e Fernandinha deve mandar mais fotos, pois a máquina de Norma ficou inibida.



4 comentários:

Anônimo disse...

Serei sempre muita grata a Pimentinha com aquela alma doce ...

"Como ficou leenda a foto da Santa ao lado de poeta Norma ... A Carioca mereca respeito de todos nós pois é fã de Rita a tempos e sempre manteve o amor pela Ruiva .."

""Ruiva essa que eu amo"" ...
"muito muito muito" ...

Amanhã ... amanhã ... amanhã ...

Bjs cheios de energias
Fernanda Lee Inácio .....

Anônimo disse...

Bartman aimé,

Thanks por divulgar os registros de Pouso Alegre e da minha mileetância, só possíveis de serem feitos por uma máquina emprestada na hora.
Depois que eu saí do show, a minha câmera resolveu funcionar!

Beijos dos seus leitores (Rita & Bart moram ao lado).

Anônimo disse...

Na verdade, com excessão da "boa do Bivar" e das 03 vezes que vc.assistiu a Elis(eu..02 vezes), sou testemunha do 37 de cabo a rabo.
Me lembro que junto do Zé Claudio(nosso sax em 1979 + ou -)assisti a Elis no Teatro Bandeirantes (o mesmo que vi Mutantes em 1973, com o Lulú Santos puxando o saco do Sergio Dias na lanchonete ao lado)em São Paulo. Aguardando pra entrar no Teatro, vi uma porta ao lado meio aberta e não deu outra,
entrei...ninguem falou nada e la estava eu/zé claudio c/ o teatro vazio, assistindo a passagem de som.
Me lembro que no show, fiquei impressionado com a interpretação dela em "Deus lhe pague".

Anônimo disse...

Olha, como é bom fuçar aquiiiiiiiii!!! Encontrei um post que fala sobre meu grande ídolo: ELIS. Maravilha, bicho!!! Só que é o seguinte:
A parada da passeata "contra as guitarras" rolou e pá... (chega a ser engraçado analisar o fato de Gil estar ao lado de Elis no meio da muvuca... hahahaha..). Bom, dizem que Elis liderou o tal movimento, mas, será que isso partiu realmente dela ou foi jogada midiática? Todo mundo sabe que Elis ficou assustada com a Tropicália e rompeu com o Gil e etc... mas, que foi quase ingênuo... ela não acreditava (a princípio) naquilo e ficou com medo de perder lugar. Vale lembrar que essa passeata foi meio que uma indireta para a tropicália, pois a intençaõ era "combater" a "invasão" da música estrangeira no país e isso não impediu a tropicália de phoder com tudo, não é mesmo? Serviu de nada. Vale ressaltar tbm que esse festival, onde era permitida somente a entrada de instrumentos acústicos, serviu para mostrar que, na verdade, o que estava chegando ao fim não era a tropicália e seus afins e sim a era mágica dos festivais de TV.
Bem, já em 1968, Elis deu uma entrevista para uma TV Portuguesa. Era uma espécie de coletiva para jovens e pá... Obviamente, tocaram no assunto da tropicália e talz e Elis disse que a Tropicália foi de grande importância para a música popular brasielira e que Caetano era o melhor repórter daquele tempo, ou seja, ele era o cara que mais sabia transmitir a parada toda da juventude e que merecia grande mérito porque ele sabia apontar as soluções. É, claro que isso se estendia para toda a galera tropicalista. Elis disse mais: Que a trpicália infelizmente foi deturpada pela mídia, foi mal interpretada!
Certa vez, Zé Rodrix disse pra não sei quem que, publicamente a convivência entre os artistas de todos os movimentos era ruim, mas na intimidade era um circo, muitos deles tinhas vidas em comum e pá... Segundo ele, havia um abismo porque, na verdade, não havia uma definição clara entre o que o público e os artistas queriam... Acho que tem um fundinho de verdade aí sim... Tá.
Elis era da turma dos preconceituosos sim, mas, a prova de que tudo foi uma bobagem veio anos depois. Todo mundo conta a história da prisão da Rita e que a Elis foi lá e fez escândalo e ajudou a Rita pra caramba, mas, alguém pode me dizer o porquê dela fazer isso?
Me lembro de uma entrevista que Rita deu pra alguém da MTV (eu acho) e lá ela fala da grande amizade dela com Elis e que as duas admitiam que gostavam uma da outra mas não podiam falar e pá... Elis disse que não tinha nada contra o rock e Rita admitia que gostava de Elis, mas, qdo se cruzavam nos bastidores dos festivais não podia nem pensar em cumprimentar ou dar um beijinho na pimentinha, pois eram de turmas diferentes... Meu, sabe qdo a Elis cantou pela primeira vez uma música de Ritz? 1971. Foi "Sucesso aqui vou eu - Build Up". Elis fez um lance com a Marília Pêra cantando essa música num daqueles especiais que ela fez para a Grobo. Enfim...
Acho uma pena que essa amizade tenha durado tão pouco porque nossa Elis partiu muito cedo. De repente poderia sair uma grande parceria dali, já que Elis tinha um dom legal com as palavras e Rita, nem precisa dizer, né? Musicalidade pelos poros.
Afffff.... como eu escreviiiiiiii. Vou parar. Falar de Elis é phoda. Se deixar eu fico a eternidade falando dela... Ah, só mais uma coisa: no RLML vc diz que Elis apareceu lá na prisão com seu filhinho de 4 anos e talz... Não. João Marcello já tinha 6 anos. 17 de Junho de 1970 é a data que ele veio ao mundo. Sei que é um mero detalhe e por isso fiquei com vergonha de dizer antes... Agora aproveitei o gancho! Ok ok ok ok...

Beijo!